A Importância de Dizer "Não"
- Luciana Mello
- 12 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de mai.
Base para uma Educação Responsável
Estabelecer limites e dizer "não” são componentes fundamentais na educação familiar, e essa responsabilidade recai primeiramente sobre os pais.

A escola desempenha seu papel no desenvolvimento acadêmico e social, mas é dentro da família que se constrói uma base ética e emocional sólida. Os pais ocupam um papel insubstituível como os primeiros educadores emocionais e morais das crianças, devendo proporcionar um ambiente de acolhimento, segurança e consistência.
Cientistas no campo da psicologia do desenvolvimento, como Diana Baumrind (1966), apontam que o estilo parental que combina afeto e firmeza é o que mais contribui para o desenvolvimento equilibrado das crianças, promovendo autocontrole e respeito. Baumrind, realizou estudos pioneiros sobre os impactos dos estilos parentais no desenvolvimento infantil.
Além disso, o psicólogo americano nascido na Rússia Urie Bronfenbrenner (1979), com seu modelo bioecológico, destaca que as interações mais próximas, como as relações familiares, têm o maior impacto sobre o desenvolvimento psicológico, pois são essas experiências iniciais que moldam as percepções e comportamentos que a criança leva para o convívio social.
Quando os responsáveis estabelecem limites de maneira acolhedora e consistente, transmitem à criança um senso de proteção e previsibilidade, fundamentais para seu bem-estar emocional. Pesquisas em neurociência, mostram que ambientes familiares que combinam carinho e orientação clara fortalecem redes neurais associadas à autorregulação e ao comportamento social, promovendo crianças mais resilientes e preparadas para lidar com os desafios e frustrações da vida.

Educar é uma conduta de guiar proteger e ensinar. Isso inclui o desafio de dizer “não” de forma amorosa, mas firme, ajudando a criança a compreender, desde cedo, que existem limites estabelecidos para seu próprio bem-estar e desenvolvimento saudável.
Em meu trabalho, já me deparei com várias situações em que a autoridade dos pais se torna um tema muito explorado nas sessões. Certo dia, perguntei a uma mãe se seu filho ficava de castigo. Com firmeza, ela respondeu: “Sim! Eu o coloco no quarto e tranco a porta”. Perguntei por que trancava a porta, e ela explicou que, se não o fizesse, ele sairia. Então, expliquei que a porta estava assumindo o papel de autoridade no lugar dela. O filho precisava aprender a respeitar a mãe, e não um objeto inanimado, pois é a presença e orientação do adulto que proporcionam segurança e estrutura emocional à criança.
Em outro caso, uma mãe se sentiu culpada porque seu filho de 13 anos pegou a chave do carro e saiu dirigindo pela cidade, sendo parado por um policial. Perguntei por que ela se culpava, e a resposta foi que ela deveria ter guardado a chave em outro lugar. Aqui, novamente, o foco estava no objeto – a chave – e não na ação em si, na desobediência e nos riscos envolvidos. Em vez de ajudar o filho a refletir sobre as consequências de suas ações, a mãe estava transferindo a responsabilidade para o local onde guardava as chaves.
E houve uma vez em que um pai pediu minha orientação sobre o que fazer com o filho de 17 anos, que pegava o carro escondido quando ele saía para trabalhar. Ele estava considerando instalar uma trava eletrônica no carro e perguntou se isso resolveria o problema. Novamente, o problema estava em delegar a um objeto o papel de autoridade, quando, na verdade, o filho precisava entender e respeitar a palavra do pai.
A autoridade parental, quando exercida com coerência e carinho, oferece um guia seguro para orientar as crianças, que, devido à sua imaturidade emocional e neural, ainda não estão prontas para assumir as responsabilidades do mundo adulto. Pais que transferem essa autoridade para os filhos, mesmo sem perceber, podem adotar uma postura negligente e desinteressada, resultando em prejuízos ao desenvolvimento emocional e social das crianças.
A psicóloga Diana Baumrind acima citada, identificou três principais estilos parentais, e vale a pena refletir sobre qual mais se aproxima de sua postura como referência familiar:
Autoritativo ou Democrático: pais que combinam firmeza com sensibilidade e diálogo, promovendo um ambiente de respeito e desenvolvimento de autoconfiança nas crianças;
Autoritário: pais rígidos que exigem obediência sem espaço para questionamentos, o que pode gerar crianças obedientes, mas inseguras e propensas à ansiedade;
Permissivo: pais que oferecem muita liberdade, evitando impor regras, o que pode dificultar o desenvolvimento do autocontrole e a habilidade de lidar com limites em casa, na escola e em outro ambiente sociais.

Esses exemplos e estudos ressaltam a importância de uma educação baseada em atitudes coerentes e ativas por parte dos responsáveis. Ao agir como modelos claros e amorosos, os pais transmitem segurança para as crianças, que aprendem a entender e respeitar as orientações dos adultos (autoridades) e não de mecanismos externos ou permissividades.
Com limites consistentes, controlados pelos adultos, formam-se crianças que compreendem e respeitam regras e valores sociais. Isso estabelece um eixo essencial de confiança e respeito que acompanhará o desenvolvimento, resultando em indivíduos seguros, educados e autônomos ao longo de toda a vida. Essa base fortalece a construção de habilidades essenciais para uma vida equilibrada e socialmente ajustada.
Assumir a responsabilidade de estabelecer limites e ser um modelo de autoridade não coerciva é fundamental para o desenvolvimento de crianças autoconfiantes e socialmente ajustadas. Pais que se colocam como líderes coerentes oferecem uma direção segura que permite à criança entender e respeitar as regras sociais e morais. Quando isso ocorre, formamos indivíduos com pilares sólidos de respeito, autonomia e segurança, prontos para enfrentar o mundo com equilíbrio e autoconfiança.
Dizer "não" é um ato de amor e responsabilidade, fundamental para o desenvolvimento de uma criança segura e preparada para enfrentar o mundo.
Quando os pais estabelecem limites de forma firme e acolhedora, ensinam aos filhos que há direções seguras e comportamentos saudáveis que precisam ser seguidos para o bem-estar de todos. Esse "não" construtivo, longe de ser apenas uma negativa, é uma mensagem poderosa que ajuda as crianças a desenvolverem autocontrole, respeitar os outros e compreender que existem limites em qualquer convivência.

Eu sou Luciana Mello,
Pedagoga com especializações em Psicopedagogia, Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis - ABA) e Relações Interpessoais, e com mais de 20 anos de experiência, meu trabalho é guiado pelo respeito à singularidade de cada indivíduo, integrando os aspectos cognitivos, emocionais e sociais.
Acredito no desenvolvimento pleno de crianças, jovens e adultos, considerando sua totalidade. Para promover um crescimento integral e harmonioso, utilizo práticas que acolhem e valorizam o potencial de cada um, oferecendo um atendimento personalizado e humanizado.
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